terça-feira, 3 de março de 2009

Menina de ouro, coração de pedra, razão inexistente


Espelho, espelho meu, existe alguém mais burrinha do que eu?
Algum dia, espero entender essa falta de raciocínio que mora na minha cabeça. Mas como assim, Anita, e falta por acaso ocupo lugar no espaço? Ah, mas ocupa! Na minha cabeça, é só falta que existe. Falta de pensar nas coisas certas, e uma sobra danada do que não presta.
Mania de querer me sentir amada, me sentir querida. Querida não no sentido de ser alguém a quem as pessoas querem o bem. Querida no sentido de desejada. Ajuda o ego. Ou deveria ajudar.
Sabe o sexo? Não a distinção macho/ fêmea, estou falando do ato sexual, transar. Pois então, conhece? Eu conheço, mas preferia nunca ter sido apresentada. Sexo somado a um estado psicológico afetado é uma combinação dolorosa. A sociedade deveria banir. Antes de fazer sexo, as pessoas deveriam apresentar um certificado de que são emocionalmente capazes de fazê-lo sem se prejudicar, ou prejudicar a terceiros.
-Anita, vamos para a minha casa?
-Sua casa? Fazer o quê, menino?
-Assistir a um filme.
-Filme? Só filme?
-Só se você quiser.
-Olha, eu topo, mas só se for para realmente assistir a um filme. E um só.
-Tudo bem.
E começou assim. Terminou comigo em prantos, novidade!
Escolhido o filme, Menina de Ouro, um colchão no chão. Ih, lá vem merda.
-Vai ficar ai, é?
-Não... (eu deveria, mas não vou, né? Assim não vai ter estória para contar. Nem motivos para chorar.)
Filme, colchão, tira o tênis, aiaiai ele está só de bermuda, mantenha sua roupa exatamente onde ela está, Anitinha, nada de chão para ela, abraço, mão dada, beijo. Ihhhh, beijo. Mais beijo, e beijo, opa, na orelha não, orelha não! Já era. Descobriu meu ponto fraco.
-Eu te odeio muito por isso. (roupas no chão)
-Você não está muito com uma cara de ódio não...
-Idiota, cala a boca.
E lets go sexo. Sexo sem amor, sexo pelo sexo, sexo por nada. E o prazer carnal, Anita, vai dizer que não gosta? Gosto, mas não gosto. Gosto de sentir a pele arrepiada, gosto da respiração rápida, gosto da pupila dilatada, gosto do tapinha no bumbum, gosto da pegada no cabelo, gosto de mordidas. Mas gosto ainda mais de dar as mãos e sentir mais prazer nisso do que uma lambida no botão mágico, gosto de um "eu te amo" rouco, gosto de cuidado, gosto de lentidão, gosto da sintonia, gosto do coração batendo no mesmo ritmo, gosto de dormir abraçadinho depois. Gosto de sexo, mas prefiro amor.
-O filme está acabando, assim que terminar, vou embora, ok?
-Ok.
Nojinho, nojinho, nojinho. Quero casa, quero banho, quero me fazer de bola na cama e chorar. E maldito filme que não acaba looogo! Anda, minha filha, termina essa luta logo. Pronto. Ahh, não, agora ela está indo para o hospital? Morreu né? Não morreu?! Guerreira, saco. Lengalenga, minha cama me espera. Um chocolate cai bem. E um cigarro. E cerveja. E drogas. E coma eterno. Seria bom acordar e já estar com a vida feita, carro na garagem, crianças na escola, emprego, maridão bonito na minha cama (maridão bonito na minha cama que me ama, me ama, me ama!).
Finalmente.
-Estou indo então, até mais. (Nunca mais, de preferência...)
E termina assim. Menina de ouro é um filme péssimo, meu coração virou pedra (pedra quebrada, tem base?), minha razão nunca existiu. Se existiu, fugiu. Se existe, me odeia.

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