
"Tenho duas opções: ou sofro como um cão abandonado, choro, choro, choro e espero passar, ou saio por ai me divertindo dentro do possível e comendo pessoas. Nada de canibalismo aqui: estou falando de sexo. Sentir algo que não seja dor é bom nessas horas." ¹
Opção escolhida: número dois. Se eu posso ter uma noite de diversão com os amigos e até conseguir um orgasmo no fim por que vou ficar choramingando deitada na cama até pegar no sono abraçada com a minha garrafa de rum? Se é para me embebedar, pelo menos que seja acompanhada para poder rir do resto da humanidade (e não me afogar no meu próprio vomito).
Vamos lá, levanta, reage, mulher! Pronto. Chuveiro, água, banho, momento de indecisão em frente ao guarda roupa, hunm, vestido, salto alto, cabelo preso, é tá bom. Pizza gelada de frango com catupiri que tinha mais mussarela que frango e catupiri e coca cola sem gás com álcool. ônibus? É, ônibus.
Boate, enfim. E nem é necessário estar alterada para ir de alguém em um lugar desses. A cada passo, há mais cenas bizarras que sequer o cara mais criativo poderia imaginar: uma menina aparentando ter dez anos de idade de tão redondo que é o seu rosto se jogando no colo do rapazinho que está mais interessado em saber se a moça que empurrou a amiga na parede vai ou não pegá-la, enquanto dois homens praticam todas as posições do kama sutra. E o melhor de tudo é que, no fim das contas, ninguém está nem ai para nada, se existe um mundo além daquelas paredes, se alguém está olhando ou se a música é uma porcaria. Simplesmente o paraíso.
Amigos, cabeças balançando conforme o ritmo, passinhos, bebida, mocinho bonitinho a esquerda, mocinho bonitinho se aproximando, mocinho bonitinho passando direto e indo ao banheiro, eu com cara de "você vai ver só", mocinho e eu no banheiro.
Nunca gostei muito dessa história de mulher tomar atitude. Gosto é de homem que chega ja chamando de lagartixa e batendo com o chicotinho. Porém, quando a lerdeza dele é maior que a minha vontade, bem, ai sim faço algo a respeito.
Certo, porta fechada desconsiderando alguns protestos indignados de quem estava realmente a fim de usar o banheiro para a sua função principal. Ele ia falar o nome dele, mas quem disse que isso importa? Cale a boca, criança, e faz o que eu quero. Dá a mãozinha aqui, isso, isso, bem ai no botão da felicidade. Uh, e que felicidade. Uh, uh mesmo. Muito obrigada, você é um anjo. Tchau. E você? Ah, desculpa, se vira, campeão.
Fim da noite que agora já é manhã, uma leve dorzinha de cabeça, as pessoas ganharam gêmeos idênticos, e por que eu estava triste mesmo?
¹Máquina de Pinball- Clara Averbuck