quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Míope


A música estava alta demais, a cerveja amargando, o sol, ah, o sol, estava tostando qualquer cristão e as pessoas estavam alegres. Incomodo. Não tinha ideia por que resolvera ir aquela festa bendita,não queria ter ido, mas foi.
Se isolou de tudo e de todos inclusive do sol tostante. Pegou um cigarro e começou a fumar enquanto observava a festa de longe.
Pouco tempo depois ele aparece para o incomodo da sua frágil paz.
- Voltou com essa besteira, é, outra crise?
Ela nada respondeu, continuou fumando fingindo uma surdez súbita. Mas por dentro houve uma inquietação de seus pensamentos. Veio uma revolta pela pergunta falsa e idiota.
A miopia alheia lhe incomodava completamente, principalmente a dele.
*photo by Katarzyna Dembrowska

domingo, 19 de julho de 2009

Beber, beber, beber beber, é o melhor para poder esquecer!


"Tenho duas opções: ou sofro como um cão abandonado, choro, choro, choro e espero passar, ou saio por ai me divertindo dentro do possível e comendo pessoas. Nada de canibalismo aqui: estou falando de sexo. Sentir algo que não seja dor é bom nessas horas." ¹

Opção escolhida: número dois. Se eu posso ter uma noite de diversão com os amigos e até conseguir um orgasmo no fim por que vou ficar choramingando deitada na cama até pegar no sono abraçada com a minha garrafa de rum? Se é para me embebedar, pelo menos que seja acompanhada para poder rir do resto da humanidade (e não me afogar no meu próprio vomito).
Vamos lá, levanta, reage, mulher! Pronto. Chuveiro, água, banho, momento de indecisão em frente ao guarda roupa, hunm, vestido, salto alto, cabelo preso, é tá bom. Pizza gelada de frango com catupiri que tinha mais mussarela que frango e catupiri e coca cola sem gás com álcool. ônibus? É, ônibus.
Boate, enfim. E nem é necessário estar alterada para ir de alguém em um lugar desses. A cada passo, há mais cenas bizarras que sequer o cara mais criativo poderia imaginar: uma menina aparentando ter dez anos de idade de tão redondo que é o seu rosto se jogando no colo do rapazinho que está mais interessado em saber se a moça que empurrou a amiga na parede vai ou não pegá-la, enquanto dois homens praticam todas as posições do kama sutra. E o melhor de tudo é que, no fim das contas, ninguém está nem ai para nada, se existe um mundo além daquelas paredes, se alguém está olhando ou se a música é uma porcaria. Simplesmente o paraíso.
Amigos, cabeças balançando conforme o ritmo, passinhos, bebida, mocinho bonitinho a esquerda, mocinho bonitinho se aproximando, mocinho bonitinho passando direto e indo ao banheiro, eu com cara de "você vai ver só", mocinho e eu no banheiro.
Nunca gostei muito dessa história de mulher tomar atitude. Gosto é de homem que chega ja chamando de lagartixa e batendo com o chicotinho. Porém, quando a lerdeza dele é maior que a minha vontade, bem, ai sim faço algo a respeito.
Certo, porta fechada desconsiderando alguns protestos indignados de quem estava realmente a fim de usar o banheiro para a sua função principal. Ele ia falar o nome dele, mas quem disse que isso importa? Cale a boca, criança, e faz o que eu quero. Dá a mãozinha aqui, isso, isso, bem ai no botão da felicidade. Uh, e que felicidade. Uh, uh mesmo. Muito obrigada, você é um anjo. Tchau. E você? Ah, desculpa, se vira, campeão.
Fim da noite que agora já é manhã, uma leve dorzinha de cabeça, as pessoas ganharam gêmeos idênticos, e por que eu estava triste mesmo?

¹Máquina de Pinball- Clara Averbuck

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Rapidinha

-Nossa, Anita, você está com uma cara boa, sorridente. O que aconteceu?

-Pois é, colega, é que eu acabei de dar no banheiro do pátio do meu prédio. Te contar, tem esse menino que eu sou a fim de dar uns pegas desde os nossos treze anos. Agora nós estamos com dezessete, né, são quatro anos de tesão acumulado. Esse ano nós resolvemos nos pegar, sem compromisso, sabe, só saciar a vontade mesmo. Dai hoje, sexta-feria a noite, bateu aquela vontade, ele estava a toa e eu também, bora pro pátio do prédio. Sentamos à mesa que tem lá, ele numa cadeira e eu na do lado. Ele pediu preu sentar no colo dele, mãozinhas se tornam sagazes, e eu de vestidinho, imagina a cena! Ele sugeriu irmos para o banheiro, ui. Ai sim começou de verdade. Mão aqui, beijo lá, ele perguntou se podia colocar o preservativo, e ui, ui, ui. Começou em pé, mas né, eu sou um pouco fornidinha, dai quebra. Ele sentou no vaso sanitário, e eu por cima. Acredita que essa é a primeira vez que fui realmente por cima? A D O R E I, campeão. Malhação garantida, parece até que passei o dia todo fazendo abdominal. Engraçado né, daqui a pouco as academias vão colocar sexo como uma das opções para perder peso e tonificar as pernas. HAHA Muito bom, muito bom mesmo. Por isso estou com essa cara boa, cara de rapidinha no banheiro. E a melhor parte, lá tem câmera. Não no banheiro, obviamente, mas aposto como o porteiro se divertiu um bocado observando nós dois na mesa e depois indo para o banheiro como se fosse super natural, haha. Adoro divertir as pessoas... E você nem vai crer, eu não estou arrependida, não estou com nojinho de mim mesma, não quero chorar. Sensacional. Mas deixa eu ir! Tchauzinho.

*A outra pessoa fica com cara de chocada.*